quarta-feira, 25 de abril de 2007

Masturbação - o Vício Solitário

Discutido desde os tempos mais remotos, o tema Masturbação ainda hoje continua carregado de incógnitas e cercado de tabus. Etimologicamente, masturbação é entendida como: profanar com as mãos ou poluir com as mãos. Vem do latim manus (mão) e stupro (perverter/profanar). O ato se refere quando o individuo dá prazer de cunho sexual a si mesmo através da manipulação dos genitais (ou com o uso de objetos). Vale a pena diferenciar 3 tipos de Masturbação: Infantil, a Dois, Auto-erotismo.

Masturbação Infantil

Considera-se Masturbação Infantil o fato de crianças ainda pequenas manipularem seus genitais. Neste caso a situação decorre da necessidade de descoberta natural do próprio corpo pelas crianças. As crianças desenvolvem atividades masturbatórias pelo simples fato de sentirem prazer, não estando ligada à fantasia sexual como no caso do adolescente e do adulto[1]. A partir das contribuições freudianas a sexualidade infantil passou a ser tema incontestável. A auto-descoberta deve ser trabalhada pelos pais como uma fase normal do crescimento da criança na formação de sua Identidade. Os órgãos genitais devem ser apresentados, devendo as orientações estar ausentes de imposições restritivas culposas ou do uso de termos depreciativos. Ao mesmo tempo os pais devem estar atentos para que o prazer advindos desta manipulação não se fixe de maneira exagerada.

Masturbação a Dois

A manipulação dos órgãos genitais num relacionamento a dois é erroneamente chamada de masturbação, no entendimento que queremos dar neste artigo. Pode fazer parte das atividades preliminares, sendo um momento especial de afeto e preparo para a o ato sexual propriamente dito. Também chamada de hetero-masturbação, em que o (a) parceiro (a) estimula o outro com as mãos ou objetos, com o intuito de dar-lhe satisfação sexual. Existe ainda a masturbação simultânea ou mútua, em que os parceiros se satisfazem ao mesmo tempo, usando as mãos ou objetos, e a masturbação com penetração simultânea. Em qualquer dos casos o objetivo geralmente é de dar maior prazer ao relacionamento sexual e obtenção de orgasmo. [2]

Auto-Erotismo

Comumente, usa-se o termo masturbação para o sexo solitário, quando o individuo através da manipulação de seus órgãos genitais (ou uso de objetos) busca o prazer e o orgasmo. Sobre esta prática nos deteremos mais.

Masturbação na História

Em algumas civilizações da Antiguidade a masturbação era permitida como forma de obtenção de prazer. Entre os gregos e os romanos tal ato era reprovado, especialmente entre os mais jovens, pois se considerava como prejudicial o desperdício de energia vital. Na Mesopotâmia era considerado ritual “impuro”. Na Idade Média, filósofos e médicos reprovavam a masturbação. A Santa Inquisição considerou heresia tal prática, e o infrator era tido como possuído por dois demônios “Incubus” e “Súcubus”. A masturbação os alimentava e permitia que estes se reproduzissem. O infrator poderia pagar com a própria vida. Além disso, relacionavam a prática ao pecado de Onã, castigado com a morte pelo próprio Deus. Daí o termo Onanismo ser confundido com masturbação.

No século XVIII, Simon André Tissot (médico suíço) através do que se conhece como “Teoria da degeneração sexual”, tendo em vista a dificuldade no diagnóstico de algumas doenças referiu-se a masturbação como sendo a causa de toda o problema. “A doença mental era especialmente intrigante para Tissot, o comportamento incomum ou inexplicável da doença mental “parecia” semelhante ao de machos desvirilizados e ele englobou tudo isso na categoria da degeneração: sendo um degenerado uma pessoa má, nociva ou moralmente corrupta”[3]. Devido aos esforços diligentes de Tissot, sua teoria tornou-se aceita no mundo médico. Em 1758, ele convenceu os pensadores médicos de sua época de que a perda do fluido seminal vital era responsável pela doença tanto física quanto mental. Vale a pena ressaltar que Tissot baseou suas observações em situações de efeitos da castração, e não conhecia o hormônio Testosterona. Sua influência difundiu-se no mundo, persistindo ainda até os nossos dias.

Nos Estados Unidos teve dois defensores importantes: o reverendo Sylvester Grahan, que acreditava que dieta, boa forma física e abstinência seriam a defesa contra a tentação viciosa da masturbação; e John Harvey Kellog. Grahan desenvolveu uma “bolacha saudável” que supostamente reduziria as necessidades carnais. Já Kellog, médico, de Battle Creek Sanitariun, seguidor mais ardoroso de Grahan. Criou uma dieta saudável para o tratamento da insanidade. Processava cereais e nozes, e afirmava que ao ingeri-los no lugar de carne “reduziria os desejos da outra carne”. J. Money , em seu livro “Lovemaps” escreve que Kellog foi um ardoroso advogado antimasturbatório da degeneração. Para os casos intratáveis, no caso de meninos aconselhava costurar a pele do prepúcio com fio de prata, ou em caso extremo a circuncisão sem anestesia. Para as meninas recomendava que o clitóris fosse queimado com fenol. Em alguns lugares praticava-se a infibulação (costura dos lábios vaginais). Mesmo com o avanço da medicina através de Louis Pasteur e Robert Koch, muitas idéias antigas se mantiveram vivas.

Na Inglaterra as idéias de Tissot tiveram como aliados o casal Baden Powell, criadores do Movimento Escoteiro Mundial. Os escoteiros surgiram como forma de combater a masturbação entre adolescentes e jovens através de um programa de incentivo as práticas sociais, valorização da moralidade e incremento do desenvolvimento físico.

Fábulas e Crendices em torno da Masturbação

Dentre os diversos mitos criados em torno do tema masturbação, e que de certo modo ainda persistem, estão os de que provoca espinhas no corpo, faz crescer pêlos nas mãos, causa emagrecimento, aumenta os seios masculinos, ocasiona tuberculose, impotência sexual e loucura.


Afinal, Masturbação: SIM ou NÃO?

Os defensores da prática masturbatória alegam que esta faz parte do desenvolvimento sexual natural do indivíduo. Munjack defende que a masturbaçãso traria vários benefícios, entre eles: um treinamento para um melhor orgasmo, aumento do conhecimento sobre as partes mais sensíveis sexualmente, aumento da vascularização pélvica, experiência de novas fantasias, descontraimento e brincadeira, etc... Contestado por outros autores, como Stekel[4], que em seus estudos observou que a reação masturbatória está muitas vezes ligada a reações neuróticas de descarga energética, e possibilidade de ocorrer uma “dependência química” uma vez que o ato se estabeleça com regularidade, incluindo aí as crises de abstinência. Segundo este autor ainda existiria uma relação íntima entre masturbação, perversões e desvios sexuais (sadismo, masoquismo, fetichismo, pedofilia, homossexualismo), além da mente ser estimulada cada vez mais a fantasias mais lascivas.

Uso na Terapia Sexual

Em alguns casos de atendimento de casais em Terapia Sexual faz-se necessário a utilização de atividades masturbatórias. Usado como técnica nos casos de controle da ejaculação precoce e ejaculação retardada. Nos casos de mulheres anorgásmicas primárias exercícios graduais de toque e estimulação são implantados como mecanismo de desenvolvimento da sensibilidade sexual.

A Lógica do Prazer Sexual segundo a Bíblia

Segundo o Gênesis o surgimento da Sexualidade se dá junto com a Conjugalidade, ou seja, no momento em que Deus institui o primeiro casamento entre Adão e Eva. A Sexualidade surge como ingrediente fundamental na coesão e conhecimento mútuo do casal. Surge como energia e força mobilizadora de união e identificação. Existe toda uma química favorável a esse encontro, e seu despertamento deveria se dar em função do outro. “Isso significa que Deus planejou o aspecto físico do ato sexual como parte da intimidade total do coração e da mente, que é o casamento.” [5] No ato masturbatório o indivíduo deixa de ter a premissa básica – o outro. Desta forma, contrariando o princípio bíblico, a masturbação decorre de desejos egocêntricos. De fato, alguns indivíduos dados à masturbação têm sérias dificuldades de relacionarem-se com o sexo oposto, dificuldades de controlar os impulsos sexuais necessitando desta prática como alivio a tensão sexual.

Outra forma de vermos a questão se dá no plano mental específico – o da fantasia. Para que o individuo consiga estimular-se manualmente e chegar ao gozo é fundamental que recorra a fantasias (cenas, imagens, sons) que lhe introduzam no clima sexual, sem o qual não chegará ao ápice. Podemos facilmente entender essa lógica, imaginando alguém (normal) se masturbando e cantando um hino religioso (se isso for possível), se conseguirá se satisfazer sexualmente ou não? Muito provavelmente não. O ensino bíblico deixa claro que o pecado contra o sétimo mandamento (“não adulterarás”) se dá inicialmente na mente, com a cobiça do (a) outro (a) que lhe não pertence. Na maioria dos casos a masturbação executa este papel. O problema não está na fantasia, no ato sexual entre duas pessoas a fantasia deve estar presente, a questão é que mais uma vez o outro não existe.

Citações de EG White sobre a Masturbação

"Algumas crianças começam a prática da masturbação na infância; e ao avançarem em anos, as paixões concupiscentes crescem com o seu crescimento e fortalecem-se com a sua força. Não têm mente tranqüila. Seu comportamento não é reservado e modesto. São ousados e atrevidos, e permitem-se liberdades indecentes. O hábito da masturbação degradou-lhes a mente e manchou-lhes a alma." Testimonies, vol. 2, pág. 481.

"O efeito de tão degradantes hábitos não é o mesmo em todas as mentes. Existem crianças que têm as faculdades morais muito desenvolvidas e que, associando-se com crianças que praticam a masturbação, tornam-se iniciadas no vício. Sobre esses, o efeito será freqüentemente torná-los melancólicos, irritadiços e desconfiados; esses, entretanto, podem não perder o respeito pelo culto religioso, e talvez não demonstrem especial deslealdade com respeito às coisas espirituais. Por vezes sofrerão intensamente com sentimentos de remorso, julgando-se degradados aos próprios olhos, perdendo seu respeito próprio." Testimonies, vol. 2, pág. 392.

"Nas pessoas viciadas no hábito da masturbação é impossível despertar-lhes as sensibilidades morais para apreciarem as coisas eternas, ou deleitar-se em exercícios espirituais. Pensamentos impuros tomam e controlam a imaginação e fascinam a mente, e segue-se um quase incontrolável desejo para a prática de atos impuros. Se a mente fosse educada a contemplar assuntos elevados, a imaginação ensinada a refletir sobre coisas puras e santas, ela seria fortalecida contra esse vício terrível, degradante, destruidor do espírito e do corpo. Seria, pela disciplina, acostumada a demorar-se nas coisas elevadas, celestiais, puras e sagradas, e não poderia ser atraída para esse vício torpe, corrupto e vil." Testimonies, vol. 2, pág. 470.

"Alguns que fazem alta profissão de fé, não compreendem o pecado da masturbação e seus seguros resultados. O hábito longamente arraigado lhes tem cegado o entendimento. Eles não avaliam a excessiva malignidade deste degradante pecado." Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 257.

"A masturbação destrói as boas resoluções, o esforço fervoroso, e a força de vontade para formar um bom caráter religioso. Todos os que têm qualquer verdadeiro senso do que significa ser cristão sabem que os seguidores de Cristo estão na obrigação, como discípulos Seus, de trazerem todas as suas paixões, forças físicas e faculdades mentais, em perfeita subordinação à Sua vontade. Os que são controlados por suas paixões não podem ser seguidores de Cristo." Testimonies, vol. 2, pág. 392.

Concluindo...

Vivemos num mundo em que a Individualidade e o Individualismo são exaltados nos quatro cantos. A mídia direta ou indiretamente reforça o direito individual sobre o coletivo, o melhor exemplo disso é a internet que hoje cria situações virtuais de interação onde os atores relacionam-se com personagens fictícios. A exaltação descomedida do prazer pelo prazer invade todos os recantos da sociedade. Neste contexto a discussão sobre a masturbação se estabelece bem maior que o ato em si, e sim num contexto em que as variáveis como autruismo, cooperação, temperança e mutualidade se contrapõem ao egoísmo, hedonismo e competitividade.


[1] ALENCAR, CML de . Masturbação: Pecado, hábito ou necessidade, Revista Terapia Sexual, vol III, , Ed. Iglu, SP, 2000
[2] idem
[3] idem
[4] Stekel, W. Onanismo y homosexualidad, Ed. Iman, Buenos Aires, 1979
[5] WADE, L. Os Dez Mandamentos, CASA, Tatuí, 2006 p.65

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Porque cresce o Alcoolismo Feminino?

Nos países, ditos desenvolvidos, cresce assustadoramente o número de mulheres que consomem bebidas alcoólicas.

Há quem diga que o quadro não é diferente nos países em desenvolvimento. Há tendência para tentar encontrar “razões” que justifiquem este problema, no entanto, ainda não se sabe se bebem em situações de crise ou se o fazem por serem as mais vulneráveis ao estresse social que os homens. Há também quem afirme que o álcool é mais pernicioso para as mulheres devido às diferenças existentes entre os dois sexos.

O que está subjacente ao consumo do álcool?

Segundo Gameiro in Fonseca (1979)[1], o alcoolismo deve ser considerado como uma manifestação sistêmica – modelo biológico, sociológico e psicológico – em que vários fatores atuam e interagem entre si.

Fatores biológicos

Ao nível biológico o efeito do álcool, constata-se que o hábito alcoólico instala-se mais rapidamente, acabando por ter um aspecto mais destrutivo, uma vez que o organismo feminino esta menos preparado para metabolizar o álcool. (Bredda, 1994)[2]. A absorção alcoólica parece ser muito mais rápida; o que contribui para uma toxicidade mais elevada. Torna-se evidente, então, que as diferenças orgânicas, relacionadas com a resistência aos efeitos do álcool estão ligadas à desigualdade dos sistemas hormonal, imunológico e enzimático.

Fatores Sociais

Constata-se que à medida em que se a diminui a censura social sobre a mulher embriagada, o alcoolismo feminino aumenta e toma progressivamente a mesma aparência do masculino. Assim, enquanto a mulher se afasta do comportamento típico da feminilidade, em que desempenha diferentes papéis (mulher, esposa, mãe, profissional, dona de casa...) à incidência do alcoolismo aumenta.
Para Bechnik (in Fernandez, 1981)[3], os fatores que determinam o crescimento desta problemática resumem-se aos seguintes mecanismos:
a) Mudança externa, queda dos “tabus” e obstáculos sociais;
b) Mudança interna, que se transformou numa crise de Identidade pelo fato da mulher ter interiorizado como modelo aspectos masculinos;
c) As tensões de uma vida profissional e as incitações provenientes do meio, no que se refere ao hábito de beber, ocupando os tempos livres para “solidificar” as relações interpessoais.
Apesar da diminuição da censura, a sociedade tem pouca tolerância com a mulher alcoólica, rejeitando e marginalizando aquelas que se embriagam frequentemente. Desta forma muitas delas entram num ciclo vicioso: bebe porque se sente rejeitada pelos outros, e assim é retirada do grupo. Considerada transgressora de sua imagem de mãe, protetora, educadora, afetiva...- o que explica muitas delas se esconderem para manter o vício.

Fatores Psicológicos

O alcoolismo poderá ocorrer em conseqüência de uma organização neurótica da personalidade. Muitas vezes como compensação de fracasso, abandono, decepção ou ainda tentativa de assumir alguma virilidade.
Reynaud (1987)[4] indica, como uma possível causa, um trauma de caráter sentimental no fundo do qual há uma mulher que sofre, com uma solidão difícil de suportar e que a procura preencher com a bebida.
Por outro lado pode representar os conflitos e ambivalência de identidade sexual, mas, sobretudo para diminuir, ou mesmo anular, a diferença entre o modo como se vê e de como gostaria de se ver.

Fatores Espirituais

A ausência de uma referência do Divino na vida cotidiana dos individuos colabora para a instalação de um complexo de sentimentos ambivantes em relação a funcionalidade e finalidade da existência humana. O vazio existencial, a falta de fé e esperança empurra o individuo cada vez mais para um abismo de solidão de proporção cada vez maior. A própria desestruturação dos modelos autruistas de relacionamentos, a exaltação descomedida do individualismo, a valorização da competência e da auto-suficiência, impõe um ritmo acelerado e quase sempre levando a exaustão a maioria. O significado último do existir se perde na efemeridade do "ganha-pão de cada dia". Não existe mais tempo para Deus, nem para o tempo de Deus.

Importância da família

Importa sublinhar que a família ocupa um papel primordial na estruturação e funcionamento psicológico do indivíduo. Como tal, as contribuições familiares englobam fatores genéticos e ambientais. Muito se tem afirmado que os filhos de alcoólicos têm, para o álcool, uma especial apetência. Isto, no entanto não prova a existência de uma hereditariedade alcoólica, mas apenas que os filhos de pais alcoólicos recebem desde cedo influências ambientais que explicam muita “coisa”. Além disso, quase sempre marcados, física e psicologicamente, estes filhos dificilmente se libertam de tais influências e de solicitações que neles irão incidir. Tanto mais que são em si mesmos, portadores de uma menor resistência ao álcool. Por outro lado, a vida frustrada e infeliz do alcoólico dá aos filhos um sentido de desgosto, de insatisfação e de revolta, que os poderá induzir na mesma vida de bebedores.

Hoje são muitos os grupos de apoio aos alcoólicos, e muitas as possibilidades de terapia, geralmente envolvendo os membros da família. Seja qual for o modelo de intervenção, deverá fornecer informações acerca das conseqüências que a dependência do álcool tem para si e para o seu meio, para que possa decidir deixá-lo... para que possa conhecer-se melhor, crescer e, fundamentalmente, para que este não se torne o elixir de uma vida curta e infeliz.

[1] Fonseca, A.F. (s/d) Psiquiatria e Psicopatologia Vol. I e II; Lisboa, Ed. Calosute Gulbenkian.
[2] Breda, S. (1994) Aspectos epidemiologicos e nutricionais do alcoolismo feminino; in “ Revista da Sociedade Portuguesa de Alcoologia” nº 1/1; Vol III Jan-Ago
[3] Fernandez, A. (1981) “ La Dépendence Alcoolique”; Paris; Presses Universitaires de France.
[4] Reynaud, M. (1987) “As Toxicomanias – Alcoolismo – Tabagismo – Drogas”; S.Paulo; Organização Andrei Ed Lda.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Religião, Mulher e Felicidade Sexual

“A mulher cristã verdadeiramente convertida tem maiores chances de obter satisfação sexual, do que a que não é cristã.” [1]
Ao ler estas palavras muitas mulheres cristãs se sentem num entroncamento paradoxal. Aquelas que pensavam ser convertidas, por não terem uma vida sexual feliz, podem passar a questionar sua religiosidade. Por outro lado as que têm uma vida sexual satisfatória podem dar saltos de alegria, porque provavelmente sua vida religiosa vai muito bem obrigada. Seja lá qual for a explicação, relacionar sexualidade com religião sempre foi polêmico.

Uma pesquisa recente [2] aponta para outra direção, revelando que entre um grupo de mulheres evangélicas do RJ o quadro de dificuldades sexuais é muitas vezes igual ou superior ao restante do público. Os resultados indicaram que cerca de 10% das mulheres apresentam quadros típicos disfuncionais. Existem aquelas que têm dificuldades na questão do desejo sexual (10%), outras apresentam dificuldades no momento de manter a excitação (6,3%) e algumas não vivenciam o orgasmo (14,5%). Se levarmos também em conta àquelas que revelaram sentir freqüentemente dor na relação (8%) e algumas que não conseguem a penetração (4%), teremos fortes indicativos de disfunções. A presença da culpa e ansiedade indica vivências conflituosas, comprometedoras da saúde sexual, possivelmente refletindo na baixa qualidade de vida sexual de um bom número delas.

A natureza dos conflitos sexuais

De acordo com Kaplan (1977)[3], de um modo geral existe um entendimento consensual, de que a maioria das dificuldades e conflitos sexuais entre os casais sejam criadas por fatores experienciais. Sobre a natureza destes fatores existem muitas controvérsias, que, dependendo do entendimento teórico podem ser vistos de variadas maneiras em sua base etiológica psíquica.
A Teoria Psicanalítica defende que o conflito inconsciente proveniente das experiências traumáticas da infância ocasiona as crises e disfunções sexuais. Outro ponto de vista é sustentado pela Teoria da Aprendizagem a partir de modelos de comportamento. A identificação é explicada a partir de princípios básicos de condicionamentos, imitações e modelagens. Quando o comportamento ocorre, a criança é reforçada ao responder adequadamente ao modelo, por desejar afetivamente ser semelhante ao modelo, ou porque ela observa um outro indivíduo ser reforçado ao emitir comportamentos desejados. A vivencia do contexto sexual na família seria o fator principal. Por outro lado, a Teoria do Desenvolvimento Cognitivo sugere que a criança passa por certos estágios de desenvolvimento, e a aprendizagem dependerá desses estágios. Kolberg apud Oliveira[4] diz que: No que diz respeito ao papel sexual, esses esquemas que ligam os eventos incluem conceitos sobre o corpo, sobre o mundo físico e social, e categorias gerais de relacionamento. (p. 16)

Determinantes Psicológicos das Disfunções Sexuais

É importante que reconheçamos que fatores etiológicos subjacentes às dificuldades sexuais, geralmente apresentam-se sob forma de conflitos de ordem psicológica advindos de experiências traumáticas ou de estruturas de formação repressoras à sexualidade. Tais componentes interferem diretamente no momento da experiência sexual, ora funcionando como inibidor da experiência erótica, ora na dificuldade de eliminação temporária de certo grau de controle e contato com o ambiente, comum no ato sexual.

Causas de disfunções sexuais

Algumas causas psicológicas podem ser entendidas como imediatas, ocorrem no contexto da experiência sexual, ou como impedimento da experiência erótica ou como falha no desempenho sexual. Os indivíduos geralmente apresentam altos níveis de ansiedade e defesas psíquicas contra os sentimentos sexuais. Algumas respostas insatisfatórias são fruto de ignorância sexual, geralmente oriunda de uma educação repressora. Alguns medos (de rejeição, de desempenho, insatisfação do parceiro) podem surgir por ocasião do afloramento de todo processo de excitação sexual. Sentimentos: como culpa e ansiedade, podem refletir lutas e esquivas inconscientes.
Algumas mulheres são tomadas de conflitos e sentimento de culpa sobre os desejos e necessidades eróticas que desencorajam os parceiros no processo de estimulação erótica. Por outro lado a tensão sexual pode ser a grande fonte geradora de ansiedade provocada pelo desejo erótico. Tais desejos podem chocar-se com pensamentos proibidos advindos da formação do indivíduo. A ortodoxia religiosa age muitas vezes na construção deste “programa” de censura e defesas cognitivas. No ato sexual as funções autônomas precisam permanecer livres do controle consciente para que se desenvolvam naturalmente (Kaplan).

A importância da Comunicação do Casal

A ocorrência de falha na comunicação do casal em comunicar francamente os sentimentos e experiências sexuais, geralmente ligados ao nível de confiança desenvolvidos entre os dois, potencializa as dificuldades, sendo importante fator na etiologia das disfunções sexuais.

Interferência da Religião

Villa (2002)[5] destaca que a religião acaba exercendo uma forte influência sobre o relacionamento conjugal, inclusive limitando o repertório de habilidades interpessoais, produzindo regras inibitórias no contexto da relação sexual, algumas destas ligadas a esquemas de punições e reforço. Kaplan (1977) comenta que infelizmente nossa sociedade compara sexo e pecado. Por esse motivo, toda a manifestação do desejo de prazer sexual de uma pessoa está sujeita a ser negada, ignorada e tratada como coisa vergonhosa e em geral incessantemente atormentada por conseqüências e associações aflitivas, sobre tudo no período da formação moral - a infância. Daí ao mesmo tempo em que o intenso prazer da sexualidade demonstra ser a força poderosa e onipresente na existência humana, é também facilmente associada ao medo e sentimento de culpa, imobilizadores da boa resposta sexual.

Kaplan faz a seguinte colocação: A equação sexualidade-imoralidade está profundamente entranhada em nossa cultura. O jovem aprende, desde a infância, que é maravilhoso andar, falar, pintar, que ele é bom menino quando come suas refeições ou dorme o seu sono, mas que os seus impulsos sexuais não são aceitáveis. Ensinam-lhe a negar a sua sexualidade, a dissociar este aspecto de si mesmo, que manifestar os desejos sexuais é perigoso, obsceno, hostil, indecente, nojento e imoral, sobretudo se seu lar for religioso.(p.151)

Alienação Sexual
O processo de alienação sexual começa desde os primeiros anos de vida. As manifestações sexuais são sistematicamente seguidas de desaprovação, castigo e recusa. Estas contingências negativas das primeiras manifestações sexuais resultam na repressão dos impulsos sexuais, instauração de conflitos destrutivos, sentimento de culpa e frieza sexual. Este processo em nossa cultura é ainda muito mais severo com as mulheres, geralmente vítimas de processo de educação altamente repressora e machista.

O Ideal Bíblico

Está claro que a partir do texto bíblico o desejo de Deus para a humanidade é de felicidade, inclusive sexual. Também está claro, que seus princípios de vida favorecem a felicidade do casal. Em toda a Bíblia vamos encontrar citação direta de valorização ao amor conjugal, aí se incluindo o sexo. O que percebemos que com o passar dos anos as reinterpretações bíblicas pelas diversas religiões cristãs têm favorecido a infelicidade sexual de muitas mulheres e homens. O padrão ortodoxo e repressor de alguns discursos religiosos, permeados por atitudes machistas conservadoras, sem dúvida ainda é uma grande barreira a ser quebrada no meio cristão.


[1] VAN PELT, N. Felizes no Amor Casa Publicadora Brasileira, 2003, SP pág. 148.

[2] NASCIMENTO, Virgilio Gomes. Norma e transgressão da sexualidade: uma pesquisa acerca dos transtornos sexuais femininos e conflitos entre atitudes e comportamento sexual num grupo de mulheres evangélicas do Grande Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Mestrado em Sexologia da Universidade Gama filho, 2005. Dissertação de Mestrado
[3] Kaplan, A nova terapia do sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1977.
[4] OLIVEIRA, L.S. Masculinidade, feminilidade, androginia, Rio de Janeiro, Achiamé, 1983..
[5] VILLA, M.B. e DEL PRETTE, Z.A., Habilidades sociais conjugais em casais de diferentes filiações religiosas, Ribeirão Preto, USP, 2002, Dissertação de Mestrado

domingo, 1 de abril de 2007

Abuso Espiritual

Adaptado do artigo por David Henke

Organização Estrutural: O abuso espiritual pode ocorrer em qualquer organização estrutural, mas as estruturas mais autoritárias são ainda mais suscetíveis ao abuso espiritual sistemático.

Definição: Abuso espiritual é o uso impróprio de qualquer posição de poder, liderança, ou influência para satisfazer os desejos egoístas de um líder religioso.
Às vezes o abuso se origina em posições doutrinárias. Às vezes ele ocorre porque os interesses pessoais de um líder, ainda que legítimos, sejam satisfeitos de maneira ilegítima. Sistemas religiosos espiritualmente abusivos são comumente descritos como legalistas, controladores mentais, religiosamente viciadores, e autoritários.


Características Comuns:

1. Autoritarismo: A característica mais evidente de um sistema religioso abusivo, ou de um líder abusivo, é a ênfase excessiva em sua autoridade. Normalmente o grupo se diz ter sido estabelecido diretamente por Deus, e, portanto, seus líderes se consideram como tendo o direito de comandar seus seguidores.

Tal autoridade, supostamente, é derivada da posição que ocupam. Em Mateus 23:1–2 Jesus disse que “na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus”, uma posição de autoridade espiritual. Ainda que outros termos sejam usados, essa posição, nos grupos abusivos, é de poder, e não de autoridade moral. Àqueles que se submetem incondicionalmente, são prometidas bênçãos espirituais. A eles é dito que devem se submeter completamente, sem o direito de questionar os líderes; se os líderes estiverem errados, isso é problema deles com Deus, e Deus ainda assim abençoará àqueles que se submetem incondicionalmente.

2. Aparência Externa: O sistema religioso abusivo procura sempre manter uma aparência de santidade. A história do grupo ou organização quase sempre é distorcida para se dar a impressão de que ela tem um relacionamento especial com Deus. Os julgamentos incorretos e as índoles duvidosas de seus líderes são negados ou encobertos para que sua autoridade não seja questionada, e para manter as aparências. Padrões legalistas de pensamento e comportamento, impossíveis de serem mantidos, são impostos aos membros. Seu fracasso em manter tais padrões é usado como constante lembrete de que eles são inferiores aos líderes, e portanto devem se submeter a eles. Religião abusiva é, essencialmente, legalismo.

A religião abusiva também é paranóica. Apenas uma imagem positiva do grupo é apresentada àqueles que não fazem parte dele, porque a verdade sobre o sistema religioso abusivo seria obviamente rejeitada se fosse conhecida. Isso é justificado com base na alegação de que pessoas “mundanas” não entenderiam a religião, e portanto, eles não têm o direito de saber. Isso leva com que membros escondam das pessoas que não são membros algumas doutrinas, regras, e procedimentos internos do grupo. Principalmente os líderes, normalmente, mantêm segredos que não divulgam a suas congregações. Esse sigilo está baseado na desconfiança geral dos outros, porque o sistema é falso e não pode resistir a escrutínios.

3. Proibição de Críticas: O sistema religioso, por não ser baseado na verdade, não pode permitir questionamentos, dissensões, ou discussões aberta sobre questões. A pessoa que questiona se torna o próprio problema, ao invés da questão que ela levantou. As resoluções sobre qualquer questão vêm diretamente do topo da hierarquia. Qualquer tipo de questionamento é considerado como desafio à autoridade. O pensamento autônomo é desencorajado, sob a alegação de que ele leva à dúvida, que por sua vez é vista como sendo falta de fé em Deus e em seus líderes ungidos. Desse modo, os seguidores procuram controlar seus próprios pensamentos, por medo de que possam estar questionando Deus.

4. Perfeccionismo: Todas as bênçãos, nos sistemas abusivos, vêm através da desempenho próprio. O fracasso é seriamente condenado, e portanto a única alternativa é a perfeição. O membro, enquanto crer que esteja tendo sucesso em manter os requeridos padrões, normalmente exibe orgulho, elitismo, e arrogância. Entretanto, quando os tropeços e fracassos inevitavelmente ocorrem, o membro muitas vezes naufraga na fé. Aqueles que fracassam nos seus esforços são vistos como apóstatas, fracos, e são normalmente descartados pelo sistema.

5. Desequilíbrio: Os grupos abusivos têm de se distinguir de todos os outros grupos religiosos para que possam alegar serem únicos e especiais para Deus. Isso normalmente é feito através de uma ênfase exagerada em posições doutrinárias menos centrais (como por exemplo, profecias sobre os últimos dias), ou através de legalismo extremo, ou uso de métodos peculiares de interpretação bíblica. Dessa forma, suas conclusões e crenças peculiares são exibidas como prova de que são únicos e especiais para Deus.


Algumas Respostas Bíblicas

Existem vários exemplos de abuso espiritual na Bíblia. No livro de Ezequiel, por exemplo, Deus descreve e condena os “pastores de Israel” que apascentam a si mesmos e não as ovelhas, que não cuidam das doentes, desgarradas e perdidas, mas dominam sobre elas com rigor e dureza (Ez. 34:1–10). Jesus reagiu com indignação contra os cambistas no Templo, que exploravam os fiéis (Mt. 21:12–13; Mc. 11:15–18; Lc. 19:45–47; Jo. 2:13–16), e também contra aqueles que se importavam mais com suas próprias interpretações da Lei do que com o sofrimento humano (Mc. 3:1–5). Em Mateus 23, Jesus nos dá uma importante descrição dos líderes espirituais abusivos. Em Gálatas, Paulo argumenta contra aqueles que queriam impor um cristianismo legalista, subvertendo a mensagem do evangelho. Existem muitos outros exemplos na Bíblia.
Jesus Cristo era Deus encarnado, a segunda Pessoa da Trindade, o Criador do universo. Ele, obviamente, tem a mais alta e soberana autoridade espiritual. Ainda assim, Jesus não usou essa autoridade para subjugar seus discípulos; ele não abusou de sua autoridade para colocá-los sob o jugo de regras e regulamentos legalistas. Ao contrário, ele disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt. 11:28–30).

Nem tampouco Jesus procurava manter as aparências externas. Ele comia com publicanos e pecadores (Mt. 9:10–13). Aos fariseus legalistas, Jesus aplicou as palavras de Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mt. 15:9). Ele condenou sua atitude: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade” (Mt. 23:27–28).

Jesus não era paranóico como os líderes abusivos. Seu ministério era transparente ao publico (Jo.18:19–21). Ele não tinha nada a esconder. Jesus não só criticou os líderes religiosos por suas doutrinas errôneas (Mt. 15:1–9; 23:1–39; etc.), mas também, quando criticado, ele não os silenciou, mas deu-lhes respostas bíblicas e racionais às suas objeções (e.g., Lc. 5:29–35; 7:36–47; Mt. 19:3–9).

Jesus, ainda que ensinasse a Lei perfeita de Deus, colocava as necessidades legítimas das pessoas acima de regras ou regulamentos legalistas (Mt.12:1–13; Mc. 2:23–3:5). Ainda que nenhum ser humano seja absolutamente perfeito nessa vida (1 Jo. 1:8), podemos saber que já temos vida eterna (1 Jo. 5:10–13; Jo. 5:24; 6:37–40; Rm. 8:1–2).

Os fariseus eram um exemplo de líderes espirituais abusivos: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt. 23:23).


Efeitos do Abuso Espiritual

O abuso espiritual tem um efeito devastador na vida das pessoas. Elas normalmente depositam um alto grau de confiança em seus líderes, os quais deveriam honrar e guardar tal confiança. Quando essa confiança é traída, a ferida que se abre é muito grande, até mesmo a ponto da pessoa nunca mais poder confiar em líderes espirituais novamente, mesmo que eles sejam legítimos.

Uma situação análoga pode ser vista nas vítimas de incesto, que apresentam sintomas emocionais e psicológicos muito parecidos com os vistos naqueles que são abusados espiritualmente. O principal sintoma é a incapacidade que desenvolvem em se relacionarem normalmente com pessoas que representem ou tenha alguma associação mental com a fonte de sua dor emocional.

Além de desenvolverem medo e desilusão com relação a líderes religiosos, as vítimas de abuso espiritual muitas vezes têm dificuldade em confiar em Deus. Eles se perguntam, “como é que Deus pode ter permitido que isso acontecesse comigo? Tudo o que eu queria era amá-lo e servi-lo!” Muitas vezes, essas pessoas desenvolvem grande rancor. A raiva, por si própria, não é necessariamente pecado, pois até mesmo Deus se ira contra a injustiça (veja acima). Entretanto, se esse rancor não for progressivamente eliminado, ele pode estabelecer raízes de amargura e incredulidade com relação a tudo que seja espiritual.


Recuperando-se do Abuso Espiritual

Para que haja uma recuperação dos males causados pelo abuso espiritual, é preciso que a vítima entenda o que aconteceu, por que aconteceu, e como aconteceu. Ela também precisa entender que ela não é a única pessoa vitimada por esse tipo de abuso. Ela deve procurar grupos de apoio, e ser contínua e pacientemente ensinada sobre a graça de Deus. Os grupos de apoio são necessários não só para que a vítima seja ministrada pelo grupo, mas também para que ela possa usar sua experiência para ministrar a outras vítimas, o que é essencial para a sua recuperação.
A vítima também deve procurar eventualmente perdoar os que a abusaram. Normalmente alguns anos são necessários para que uma vítima de abuso espiritual possa ser totalmente restaurada.


Traduzido e adaptado com a permissao de Watchman Fellowship, Inc.Tradução e adaptação: Marcelo Parga de Souza

Uma perspectiva Cristã do sexo.

A atitude da sociedade quanto ao sexo tem ido de um extremo ao outro. “A pessoa da época vitoriana,” escreve Rollo May, “procurava ter amor sem cair no sexo; o humano moderno procura ter sexo sem cair no amor.”1 Do ponto de vista puritano do sexo como um mal necessário para a procriação, chegamos à concepção popular do sexo como algo necessário para recreação.

Ambos os extremos estão errados e deixam de cumprir a intenção divina quanto ao sexo. A opinião negativa faz os casados se sentirem culpados quanto a suas relações sexuais; a opinião permissiva transforma as pessoas em robôs, entregando-se ao sexo sem muito sentido ou satisfação.

Como deveria o cristão relacionar-se com o sexo? Que diz a Bíblia sobre a sexualidade? Como cristão que crê na Bíblia, achei os sete princípios seguintes úteis para a compreensão de como deveríamos nos relacionar com o sexo.

Princípio nº 1: A Bíblia fala da sexualidade humana como boa

Comecemos com o começo: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27). Depois de cada ato de criação, Deus disse “que isso era bom” (Gênesis 1:12, 18, 21, 25), mas depois da criação da humanidade como homem e mulher, Deus disse “que era muito bom” (Gênesis 1:31). Esta avaliação inicial da sexualidade humana como algo “muito bom” mostra que a Bíblia vê a distinção sexual macho/fêmea como parte da qualidade boa e perfeita da criação divina original.

Note também que a dualidade sexual humana como macho e fêmea é dita explicitamente ter sido criada à imagem de Deus. Como as Escrituras distinguem os seres humanos de outras criaturas, os teólogos têm usualmente pensado que a imagem de Deus na humanidade se refere às faculdades racionais, morais e espirituais que Deus outorgou a homens e mulheres.

Contudo, há um outro modo de compreender a imagem de Deus, implícita em Gênesis 1:27: “À imagem de Deus o criou: homem e mulher os criou.” Assim a masculinidade e a feminilidade humanas refletem a imagem de Deus no sentido que o homem e a mulher têm a capacidade de experimentar uma unidade de companheirismo semelhante à que existe na Trindade. O Deus da revelação bíblica não é um Ser solitário e único, que vive em alheamento eterno, mas sim um companheirismo de três Seres unidos de um modo tão íntimo e misterioso que nós Os adoramos como um só Deus. Esta unidade misteriosa da Trindade reflete-se como uma imagem divina na humanidade, na dualidade sexual de homem e mulher, misteriosamente unidos em casamento como “uma só carne”.

Princípio nº 2: A relação sexual é um processo pelo qual dois tornam-se “uma só carne”

O companheirismo íntimo entre homem e mulher é expresso em Gênesis 2:24: “Por isto deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” A frase “uma só carne” refere à união de corpo, alma e espírito entre cônjuges. Esta união total pode ser experimentada especialmente através da relação sexual, quando o ato é a expressão de amor, respeito e devoção genuínos.

A frase “tornando-se os dois uma só carne” expressa a estimativa divina do sexo dentro da relação conjugal. Diz-nos que Deus vê o sexo como um meio pelo qual o marido e a esposa podem atingir nova unidade. É digno de nota que a imagem “uma só carne” nunca é usada para descrever a relação de uma criança com seu pai ou mãe. O homem precisa deixar seu pai e mãe para se tornar “uma só carne” com sua mulher. Sua relação com sua esposa é diferente de sua relação com os pais porque consiste de uma nova unidade consumada pela união sexual.

Tornar-se “uma só carne” implica também que o propósito do ato sexual não é apenas procriativo (produzir filhos), mas também psicológico (satisfazendo a necessidade emocional de consumar nova relação de unidade). Unidade implica na disposição de revelar ao outro do modo mais íntimo seu eu físico, emocional e intelectual. Ao se conhecer do modo mais íntimo, o casal experimenta o significado de tornar-se uma só carne. A relação sexual não garante automaticamente esta unidade. Antes consuma a intimidade de uma participação perfeita que já se desenvolveu.

Princípio nº 3: Sexo é conhecer um ao outro no nível mais íntimo

Relações sexuais dentro do casamento permitem a um casal chegar a conhecer um ao outro de um modo que não pode ser experimentado de nenhum outro modo. Participar da relação sexual significa revelar não apenas seu corpo, mas também seu ser interior um ao outro. É por isto que as Escrituras descrevem a relação sexual como “conhecer” (ver Gênesis 4:1), o mesmo verbo usado no hebraico em referência a conhecer a Deus.

Obviamente Adão tinha chegado a conhecer Eva antes de sua relação sexual, mas através dela chegou a conhecê-la mais intimamente do que antes. Dwight H. Small observa a propósito: “Revelação através da relação sexual encoraja revelação em todos os níveis da existência pessoal. Esta é uma revelação exclusiva e única para o casal. Eles se conhecem como a ninguém mais. Este conhecimento único equivale a reclamar o outro num pertencer genuíno.... A nudez e a ligação física é simbólica do fato de que nada é oculto ou retido entre eles.”2
O processo que leva à relação sexual é um de conhecimento crescente. Do conhecimento casual inicial ao cortejo, casamento e relação sexual, o casal cresce no conhecimento um do outro. A relação sexual representa a culminação deste crescimento recíproco e intimidade. Como Elizabeth Achtemeier o expressa: “Sentimos como que a mais oculta profundidade de nosso ser é trazida à superfície e revelada e oferecida um ao outro como a expressão mais íntima de nosso amor.”3


Princípio nº 4: A Bíblia condena o sexo fora do casamento

Uma vez que sexo representa a mais íntima de todas as relações interpessoais, expressando uma unidade de devoção completa, tal unidade não pode ser expressada ou experimentada numa união sexual casual na qual o intento é puramente recreacional ou comercial. A única unidade experimentada em tais uniões é a da imoralidade.

Imoralidade sexual é grave porque afeta o indivíduo mais profunda e permanentemente do que outro pecado qualquer. Como Paulo afirma: “Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que pratica imoralidade peca contra o próprio corpo” (I Coríntios 6:18). Alguém poderá dizer que até a glutonaria e a bebedice afetam uma pessoa no interior do corpo. Mas esses pecados não têm o mesmo efeito permanente sobre a personalidade como o pecado sexual.

Abuso no comer ou no beber pode ser vencido, bens furtados podem ser devolvidos, mentiras podem ser retratadas e substituídas pela verdade, mas o ato sexual não pode ser desfeito. Uma mudança radical, que não pode jamais ser desfeita, ocorreu na relação interpessoal do casal em questão.

Isto não significa que pecados sexuais sejam imperdoáveis. A Bíblia nos assegura por exemplo e preceito que se confessarmos nosso pecado, o Senhor é “fiel e justo para perdoar todos os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (I João 1:9). Quando Davi se arrependeu de seu duplo pecado de adultério e homicídio, Deus o perdoou (ver Salmos 51 e 32).

Princípio nº 5: O sexo sem compromisso reduz a pessoa a um objeto

Sexo fora do casamento é sexo sem compromisso. Tais relações casuais destroem a integridade da pessoa por reduzir a outra a um objeto de gratificação pessoal. Pessoas que se sentem feridas e usadas depois de encontros sexuais podem se retrair completamente de atividade sexual de medo de serem usadas novamente, ou podem decidir usar seus corpos egoistamente, sem consideração pelos sentimentos dos outros. De um modo ou de outro, a sexualidade é pervertida porque ele ou ela destruiu a possibilidade de usar sua sexualidade para relacionar-se genuina e intimamente com a pessoa que ama.

Sexo não pode ser usado como divertimento com um parceiro uma vez e como modo de expressar amor genuíno e compromisso com outro parceiro noutra ocasião. A perspectiva bíblica de unidade, intimidade e amor genuíno não pode ser realizada em sexo fora do casamento ou em sexo com parceiros múltiplos.

Noivos provavelmente dirão que estão expressando amor genuíno ao engajar em sexo pré-marital. De uma perspectiva cristã, noivos respeitarão um ao outro e considerarão o noivado como uma preparação para o casamento, e não como casamento. Até assumir os votos matrimoniais, existe a possibilidade de romper a relação. Se um casal teve relação sexual, comprometeram sua relação. Qualquer ruptura subseqüente deixará cicatrizes emocionais permanentes. É somente quando um homem e uma mulher desejam tornar-se um, não apenas verbal como também legalmente, assumindo responsabilidade por seu parceiro, que eles podem selar seu relacionamento através da união sexual.

Em nenhuma outra área tem sido a moralidade cristã atacada como na área de sexo fora do casamento. A condenação bíblica de atos sexuais ilícitos é clara mas freqüentemente ignorada com subterfúgios. Por exemplo, a fornicação é chamada sexo pré-marital, com a ênfase sobre o “pré”. Adultério é chamado sexo “extramarital”, não como um pecado contra a lei moral divina. A homossexualidade passa de uma perversão grave para “desvio” e “variação gay”.

Mais e mais, cristãos estão cedendo ao argumento especioso de que “o amor o justifica”. Se um homem e uma mulher se amam profunda e genuinamente, é dito que eles têm o direito de expressar seu amor através da união sexual fora do casamento. Alguns argüem que sexo pré-marital libera as pessoas de suas inibições, dando-lhes a sensação de liberdade emocional. A verdade é que o sexo pré-marital aumenta a pressão emocional porque reduz o amor sexual a um nível puramente físico, sem o comprometimento total de duas pessoas casadas.

Princípio nº 6: Sexo é ao mesmo tempo procriativo e relacional

Até o começo de nosso século, os cristãos geralmente criam que a função primária do sexo era procriativa. Outras considerações, como os aspectos de união, relação e prazer do sexo eram vistos como secundários. No século XX a ordem foi invertida.

De um ponto de vista bíblico, atividade sexual dentro do casamento é tanto procriativa como relacional. Como cristãos, precisamos recuperar e manter o equilíbrio bíblico entre estas duas funções do sexo. União sexual é um ato prazenteiro de participação perfeita que gera um sentimento de unidade ao mesmo tempo que oferece a possibilidade de trazer um novo ser ao mundo. Precisamos reconhecer que o sexo é uma dádiva divina que pode ser desfrutada legitimamente dentro do casamento.

Paulo encoraja maridos e esposas a cumprirem seus deveres conjugais, porque seus corpos não lhes pertencem somente mas um ao outro. Portanto não deveriam privar um ao outro do sexo, exceto por acordo mútuo por algum tempo para se devotar à oração. Depois deveriam se ajuntar de novo para que Satanás não os tente por causa da incontinência (I Coríntios 7:2-5; ver também Hebreus 13:4).

Princípio nº 7: O sexo permite ao homem e à mulher refletirem a imagem de Deus participando em Sua atividade criativa

Na Bíblia, o sexo serve não somente para gerar uma unidade misteriosa de espírito, mas também oferece a possibilidade de trazer crianças a este mundo. “Sede fecundos, multiplicai-vos,” diz o mandamento de Gênesis (Gênesis 1:28).

Naturalmente, nem todos os casais podem ter ou são justificados em ter filhos. Velhice, infertilidade e enfermidades genéticas são alguns dos fatores que tornam a geração de filhos impossível ou desaconselhada. Para a maioria dos casais, contudo, ter filhos é uma parte normal da vida conjugal. Isto não significa que todo ato de união sexual deva resultar em concepção.

“Não fomos feitos para separar sexo da geração de filhos,” escreve David Phypers, “e os que o fazem, de modo total e final, puramente por razões pessoais, estão certamente falhando quanto ao propósito divino para suas vidas. Correm o risco de que seu casamento e atividade sexual se tornem egoístas. Só consideram sua própria satisfação, em vez de levar em conta a experiência criativa de trazer nova vida ao mundo, nutrindo-a para a maturidade.”4
Procriação como parte da sexualidade humana traz à tona a importante questão de medidas anticoncepcionais. Será que o mandamento de ser fecundo e multiplicar significa que devemos deixar o planejamento familiar ao esmo?

Não se encontra uma resposta explícita na Bíblia. Vimos que o sexo é tanto relacional como procriacional. O fato de que a função do sexo no casamento não é apenas de gerar filhos, mas também para expressar e experimentar amor mútuo e compromisso, implica a necessidade de certas limitações na função reprodutiva do sexo. Isto significa que a função relacional do sexo pode ser uma experiência dinâmica viável, se sua função reprodutiva for controlada.

Isto nos leva a outra questão: Temos o direito de interferir com o ciclo reprodutivo estabelecido por Deus? A resposta histórica da Igreja Católica Romana tem sido um claro “NÃO”! A posição católica tem sido moderada pela encíclica Humanae Vitae (Julho 29, 1968), do Papa Paulo VI, que reconhece a moralidade da união sexual entre marido e mulher, mesmo se não visa a geração de filhos.5 A encíclica, embora condenando medidas anticoncepcionais artificiais, permite um método natural de controle de natalidade conhecido como o “método do ritmo”. Este método consiste em limitar a união sexual aos períodos inférteis no ciclo menstrual da mulher.

A tentativa da Humanae Vitae de distinguir entre medidas anticoncepcionais “artificiais” e “naturais”, tornando a primeira imoral e a segunda moral, tem um ar de arbitrariedade. Tanto num caso como no outro, a inteligência humana impede a fertilização do ovo. O rejeitar como imoral o uso de medidas anticoncepcionais artificiais pode levar à rejeição do uso de qualquer vacina, hormônio ou medicamento que não é produzido naturalmente pelo corpo humano.

“Como quaisquer outras invenções humanas,” escreve David Phypers, “a prevenção de gravidez é moralmente neutra; o que importa é o que fazemos com ela. Se a usarmos para praticar sexo fora do casamento ou egoistamente dentro do casamento, ou se por ela invadimos a privacidade do casamento de outros, podemos com efeito ser culpados de desobedecer a vontade de Deus e de perverter a relação matrimonial. Contudo, se a usarmos com o devido respeito à saúde e ao bem-estar de nossos parceiros e de nossas famílias, então pode aprimorar e fortalecer nosso casamento. Pela prevenção de gravidez podemos proteger nosso casamento das tensões físicas, emocionais, econômicas e psicológicas que poderiam advir de outras concepções, e ao mesmo tempo podemos usar o ato conjugal, reverente e amorosamente, para nos unir numa união duradoura.”6
Conclusão

A sexualidade é parte da bela criação divina. Nada tem de pecaminoso. Contudo, como todas as dádivas de Deus aos seres humanos, o sexo caiu sob o plano satânico de desviar a humanidade da intenção divina. A função do sexo é de unir e procriar, dentro da relação de homem e mulher se unirem para formar “uma só carne”. Quando esta relação é rompida, quando o sexo ocorre fora do casamento — tanto premarital como extramaritalmente — temos a violação do sétimo mandamento. E isto é pecado — pecado contra Deus, contra um ser humano e contra o próprio corpo.

Mas a Bíblia não nos deixa sem esperança. Ela nos oferece a graça de Deus e o poder de vencer todo pecado que nos assedia, incluindo o pecado sexual. Embora pecados deixem marca na consciência e prejudiquem a outra pessoa, o arrependimento genuíno pode abrir a porta ao perdão divino. Nenhum pecado é tão grande que a graça de Deus não possa curar e restaurar. Tudo de que precisamos é buscar aquela graça, pois é ela que nos habilita a alcançar todo potencial que o Criador pôs dentro de nós.

E isto se aplica também ao sexo. Numa época em que a permissividade e a promiscuidade sexuais prevalecem, é imperativo para nós cristãos reafirmarmos nosso compromisso com o ponto de vista bíblico acerca do sexo como uma dádiva divina para ser desfrutada somente dentro do casamento.

Samuele Bacchiocchi (Ph.D., Pontifical University, The Vatican) leciona teologia e história da igreja na Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, E.U.A. Este artigo é uma adaptação do capítulo 3 de seu livro, The Marriage Covenant, que pode ser encomendado de Biblical Perspectives; 4990 Appian Way; Berrien Springs, MI 49103; E.U.A.

Notas e referências
1. Rollo May, “Reflecting on the New Puritanism”, em Sex Thoughts for Contemporary Christians, ed. Michael J. Taylor, S. J. (Garden City, New York: Doubleday, 1972), pág. 171.
2. Dwight H. Small, Christian: Celebrate Your Sexuality (Old Tappan, N.J.: Revell, 1974), pág. 186.
3. Elizabeth Achtemeier, The Committed Marriage (Philadelphia: Westminster, 1976), pág. 162.
4. David Phypers, Christian Marriage in Crisis (Bromley: Marc Europe, 1985), pág. 38.
5. Humanae Vitae, parágrafo 11.
6. Phypers, pág. 44.

Quem ama, espera

Seja na escola, por meio da mídia ou no convívio com colegas, todos os dias, os jovens são bombardeados com propagandas, conversas e depoimentos de pessoas que pregam o sexo livre. Esse comportamento teve início na década de 1960, por meio do movimento hippie, e com o surgimento da pílula anticoncepcional e da camisinha, o liberalismo sexual chegou ao extremo.

Na contramão de todos os apelos pela liberdade sexual, foi desenvolvida uma campanha com o objetivo de transmitir aos jovens o valor espiritual, emocional e físico de permanecer virgem até o casamento. Chama-se “Quem Ama Espera”. A idéia surgiu nos Estados Unidos, em 1993, onde milhares de jovens assinaram o compromisso de não manterem relações sexuais antes do casamento. O sucesso da campanha norte-americana motivou a Aliança Batista Mundial a promover o “Quem Ama Espera” em outros países.

INÍCIO NO BRASIL
De acordo com o pastor Fabiano Pereira, diretor-executivo da Junta de Mocidade (Jumoc) da Convenção Batista Brasileira, a campanha chegou ao Brasil em 1995 e desde então tem alcançado jovens dispostos a manter a pureza sexual. A cada dois anos, é realizado o Congresso Despertar, quando é dada a oportunidade de muitos assumirem um compromisso diante de Deus. O próximo encontro será em julho de 2007, em Salvador. “Aderir à campanha significa declarar ao mundo que os jovens cristãos estão comprometidos com a pureza sexual e que a abstinência pré-marital é a única solução para os problemas relacionados à promiscuidade”, atesta.

Fabiano Pereira acredita que o projeto é um desafio às famílias cristãs para que assumam os padrões bíblicos de comportamento sexual. “Precisamos transmitir ao mundo uma melhor alternativa para as campanhas pelo sexo seguro.” Casado com Daniele Valério Pereira, antes de se tornar diretor-executivo da Jumoc, o próprio pastor e esposa foram alvos da campanha no Estado de Minas Gerais.

No planejamento da Jumoc, cada igreja recebe um programa do projeto e procura se adequar de acordo com cada realidade. O trabalho consiste em reuniões semanais de pequenos grupos onde são tratadas questões sobre relacionamento. “Quando se fala em relacionamento, não se pode deixar de lado a questão sexual. Os jovens se reúnem para orar, estudar a Bíblia, discutir e tirar dúvidas”, diz ele. Segundo o diretor da Jumoc, existem alguns pontos importantes para que o jovem mantenha a pureza sexual.

O primeiro é o amor a Deus, onde obedecer a Seus mandamentos é uma forma pura de demonstrar esse sentimento a Ele. O amor ao futuro cônjuge é o segundo ponto. “Sexo antes do casamento sempre machuca as pessoas”, destaca, lembrando que o amor aos futuros filhos e a si mesmo também deve ser analisado antes de qualquer decisão a respeito de um envolvimento sexual antes do casamento.

Dinê Lota conheceu a campanha em um congressoe manteve o voto de pureza por nove anos.A esposa Rosemeire também foi fruto de "Quem Ama Espera"

Quem foi alcançado pela campanha não se arrepende do período difícil, porém valioso, de abstinência sexual durante o namoro e o noivado. Denise Vasconcelos Araújo, 21 anos, da Igreja Batista de Campos dos Afonsos, Rio de Janeiro, diz que conheceu o projeto durante uma programação de jovens e adolescentes e abraçou a causa. Casada há quatro meses com Mário Lúcio de Araújo Júnior, 26 anos, ela afirma que os dois não se arrependeram de esperar o momento certo para o relacionamento sexual. “Na época, eu ainda era uma adolescente, mas percebi que esperar a hora certa era o mais seguro e, sobretudo, agradava a Deus”, testemunha.

RESULTADOS
Para Dinê Lota, 26 anos, membro da Igreja Batista do Fonseca, em Niterói, Rio de Janeiro, o compromisso de permanecer virgem até o casamento foi uma dádiva de Deus. Durante um congresso anual de adolescentes na cidade fluminense de Rio Bonito, do qual participaram cerca de 600 jovens, ele conheceu a campanha e manteve o voto de pureza por nove anos. Hoje está casado com Rosemeire Dias Rodrigues Lota, 27 anos, que também foi fruto da campanha e afirma: “Esperamos o momento certo, dentro da vontade de Deus.”

“A campanha ‘Quem Ama Espera’ não é tão simples, porque se trata de uma organização denominacional que engloba várias igrejas”, explica Fabiano Pereira, esclarecendo que só o verdadeiro amor pode motivar alguém a permanecer puro até o casamento. “Os jovens não precisam ter medo. Quem ama de verdade saberá esperar com paciência pelo casamento, quando, finalmente, demonstrará todo o seu amor ao companheiro, também por meio do sexo”, conclui.



Fonte: Revista Enfoque Gospel, edição 240.

Transmissão do Trauma

Cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova lorque, efectuaram, em 2002, um estudo que envolveu um grupo de crianças de um ano, filhos de mulheres sobreviventes aos atentados de 11 de Setembro de 2001.
Através da analise dos níveis de cortisol na saliva das crianças, verifícaram que existia uma forte probabilidade do trauma ser transmitido biologicamente durante a gravidez. Chegaram a estas conclusões, uma vez que os níveis de cortisol eram mais baíxos do que o habitual, um sintoma de stresse pós-traumático.

Os cientistas realçaram que os sintomas eram mais visíveis nos bebés cujas mães estavam nos últimos três meses de gravidez, naquelas que se encontravam no World Trade Centre, ou nas proximidades, quando da queda dos aviões. Anteriormente, foi realizado um estudo semelhante com filhos de sobreviventes do Holocausto. Mas, segundo Jonathan Seckl, um pesquisador da Universidade de Edimburgo, "a transmissão
do trauma da mãe aos filhos estava geralmente relacionada com a forma da mãe comunicar com a criança, ou a outras consequências do trauma desta, como negligência ou comportamento inconsistente com o bebé".
Fonte Revista Psicologia Actual, Nov-Dez.06