domingo, 26 de agosto de 2007

Papel do homem nas tarefas domésticas.

Recentemente no Globo Online (17/08/2007) foi publicada uma pesquisa que confirma o predomínio do machismo nas relações domésticas ainda hoje em nossa sociedade. Impressionante que tais dados também são significativos no meio evangélico.

Não é de hoje que o papel feminino no meio cristão, e especialmente evangélico, tem sido muitas vezes alvos de repressão e desqualificação. Nos meios mais ortodoxos interpretações forçadas do texto bíblico servem ainda para manter a mulher sob a égide e poder masculino, aumentando a carga sobre elas.

Os dados estatísticos do IBGE confirma o que as mulheres já sabiam: homem dá muito trabalho. A pesquisa mostra que a existência de um cônjuge masculino dentro de casa representa um aumento de cerca de duas horas semanais nos afazeres domésticos das mulheres. E revela que os homens com maior grau de escolaridade são os que mais ajudam nas tarefas domésticas. E que é no Nordeste brasileiro a região onde eles menos ajudam.

De certa forma o meio eclesiástico reflete o arranjo dos lares e da sociedade em geral. Em muitos casos, a mulher cristã acumula funções domésticas, cuidados com a prole, deveres profissionais, deveres na igreja e quando não ainda numa formação acadêmica.

“Muitos maridos não compreendem e não apreciam suficientemente os cuidados e perplexidades que suas esposas suportam, geralmente confinadas o dia todo à incessante rotina dos deveres domésticos. Freqüentemente eles retornam ao lar com a fisionomia carregada, não trazendo alegria ao círculo da família. Se a refeição não saiu na hora, a fadigada esposa, que é a um tempo, faxineira, enfermeira, cozinheira e ama, é saudada com censuras.”

A pesquisa, anteriormente citada, também confirma que o fato de trabalhar fora de casa não liberou as mulheres dos afazeres domésticos. No país, 109,2 milhões de pessoas de 10 anos ou mais de idade declararam realizar tarefas domésticas. Destas 71,5 milhões (65,4%) são mulheres e 37,7 milhões (34,6%) são homens. O tempo despendido diferencia-se significativamente: eles 8,2 e elas, 14,3 horas semanais.

" Na faixa etária de 25 a 49 anos de idade, onde a inserção das mulheres no mercado de trabalho é maior e a presença de filhos pequenos maior, 94% das brasileiras realizam trabalhos domésticos"

As mulheres casadas têm maior jornada com afazeres domésticos e dedicam a este trabalho o triplo do tempo gasto pelos homens, ou seja, 31,1 horas semanais contra 10,9 horas deles. Entre as não-casadas, o tempo médio é de 22 horas semanais.

Se aumentou a necessidade da mulher contribuir profissionalmente com recursos financeiros para a manutenção de sua família, por outro lado não vemos aumentar a participação masculina nos afazeres domésticos em igual percentual. Se bem que o número de homens que ajudam nos deveres domésticos têm aumentado. Por incrível que pareça parte deste problema se dá pela própria atuação da mulher impedindo a ajuda dos homens da casa (filhos e esposo), mantendo a exclusividade e prioridade dos deveres com a ala feminina.

A desigual distribuição dos trabalhos domésticos começa a se delinear já na infância. Na população entre 10 e 17 anos, a diferença já aparece: enquanto 82,6% das meninas nessa faixa etária ajudam nas tarefas da casa, somente 47,4% dos meninos se dedicam a esse trabalho caseiro:
- Há uma construção cultural de que cabe às meninas essas atividades. Mesmo com carga maior, elas têm rendimento escolar melhor, fazem mais tarefas domésticas e, mesmo quando estão no mercado de trabalho, a carga de serviço é maior que a dos meninos (oito horas semanais para os meninos ocupados e 14,1 horas para meninas ocupadas - diz Cristiane Soares, técnica da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

Como religiosos como podemos mudar esses números em nosso meio? Será que os homens e pais poderiam atuar de maneira diferente em suas casas? É dito aos maridos e pais:

“A vida da mãe nas humildes ocupações domésticas é de constante sacrifício, tornando-se mais dura se o marido deixa de apreciar as dificuldades da posição da esposa e não lhe dá o seu apoio.” (Signs of the Times, 6 de dezembro de 1877.)

“O pai não deve omitir-se de sua parte na obra de educar os filhos. Ele deve participar das responsabilidades. Há obrigações para ambos, pai e mãe.”

Creio que num tempo de reavaliações nos papéis sócio-sexuais, os homens cristãos devam assumir seu papel de ajudador nos deveres domésticos, aliviando o fardo da parte feminina.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Escravos da Beleza

Ser jovem, aliás, ser eternamente jovem, é a principal aspiração existencial de algumas pessoas, atualmente acrescida do ideal de beleza de ser magro(a), malhado(a) e esbelto(a). No Brasil, o conceito de beleza está associado a ser jovem, como se fosse impossível encontrar o belo fora da juventude. Talvez por isso nosso país esteja entre os primeiros no ranking da Cirurgia Plástica Rejuvenescedora, além de ser também um voraz consumidor de medicamentos para emagrecer. É triste, mas às vezes as pessoas acham que o mais importante é o que aparentam, e não o que são de fato. E é comum dizer-se “– Nossa, você já tem 60 anos? Mas não parece...”. Não parece como? Baseado em que? Ora essa atitude invalida todas as experiências vividas para se chegar aos sessenta, que não se consegue aos trinta ou quarenta.
“Bela, jovem e magra, custe o que custar”. Ser bonita, fazer um book e tentar ser famosa através dos atributos físicos... Este é o conceito ideal que algumas meninas, adolescentes, jovens e mulheres perseguem incessantemente. Modelos, artistas de cinema e de televisão são os protótipos copiados por elas, colocando em segundo plano outros atributos que não os do corpo perfeito.
De fato, romper esses estereótipos culturais tem sido muito difícil. As pessoas são catalogadas culturalmente e classificadas em categorias sociais; jovens e belas, modernas, avançadas, de atitude, arrojadas, descoladas, enfim, nesse mundo pretensamente liberal e democrático, nessa sociedade que se diz respeitar a individualidade e autenticidade, quem não se enquadrar obrigatoriamente no modelinho da modernidade desejada estará, automaticamente, excluído do mundo das pessoas “de bem”. E um desses modelinhos implica na observância obsessiva dos limites do peso, tiranamente estabelecido por sabe-se-la-quem.
Mas há uma luz (tênue) no fim do túnel e aqueles que conseguem seguir o próprio caminho, emancipados dos estereótipos ou modelinhos culturais, parecem viver muito melhor. Foi o que mostrou uma pesquisa feita em 1995 na Universidade de Edinburgh, na Inglaterra, transformada no livro e comentada na revista Época. O autor, o psicólogo David Weeks, pesquisou, por uma década, pessoas que viviam fora dos padrões - tanto de comportamento quanto estéticos. Foram 789 americanos, 130 britânicos, 25 alemães e 25 neozelandeses. Ao fim, concluiu que os excêntricos eram mais seguros, menos estressados, mais felizes e, por isso, tendiam a viver mais.
Em nossa cultura o conceito de beleza está associado à juventude, como se não existisse o belo fora da juventude. A conseqüência dessa cultura na saúde emocional se vê na ocorrência de alguns transtornos emocionais como, por exemplo, os Transtornos Alimentares (anorexia e a bulimia), Transtorno Dismórfico Corporal, Vigorexia. Isso sem contar a propensão que as pessoas vitimadas pelas restrições sociais impostas pela tirania do corpo têm para desenvolver depressão, algumas vezes levando ao suicídio. Além de tudo isso, a cultura do corpo perfeito acaba promovendo acidentes médicos graves decorrentes do uso abusivo de cirurgias e intervenções estéticas.

domingo, 12 de agosto de 2007

A linguagem do amor

É gratificante quando percebemos que várias pessoas de diferentes formações, ideologias e religiões percebem a importância de exaltar o amor e repudiar o egoísmo. Como no artigo a seguir de uma médica paulista:

A juventude, pressionada por um ambiente hedonista, grita silenciosamente por orientação
(Aneliese Alckmin Herrmann)


"Acredito que a maior tragédia do homem tenha ocorrido quando ele separou o amor do sexo. A partir de então, o ser humano passou a fazer muito sexo e nenhum amor. Não passamos do desejo, eis a verdade. Todo desejo, como tal, se frustra com a posse. A única coisa que dura além da vida e da morte é o amor". Esta observação de Nelson Rodrigues traz à tona a necessidade, cada vez maior nos dias de hoje, de dizer não ao sexo descartável. Vários depoimentos de jovens confirmam este fato: “O sexo hoje em dia está radicalmente banalizado. As pessoas esquecem de construir um relacionamento antes de trazer o sexo a ele", dizia recentemente um jovem a um conhecido jornal.


Passamos abruptamente de uma educação onde o sexo era tabu e a ignorância a respeito da sexualidade humana considerada uma manifestação de integridade moral, para uma outra onde tudo é “normal”, correto e permitido. O sexo passou a ser uma matéria de ensino esquecendo-se de que “não se ensina a fazer sexo assim como não se ensina a amar”. O advento da AIDS colaborou de certa forma para que os educadores, preocupados com a disseminação da doença particularmente entre os jovens, procurassem uma maneira de impedir o avanço do mal.


Mundialmente foi adotada uma série de medidas: campanhas preventivas, propaganda insistente no uso de preservativos, educação sexual nas escolas — que, no Brasil, é obrigatória para escolas de ensino fundamental e médio. No ser humano — racional —, que deve ter seus instintos sob o domínio da razão, o sexo deve ser manifestação de amor, verdadeiro amor. E amor exige conhecimento, convivência. Necessita de tempo. A juventude à deriva, sem distinguir claramente o certo e o errado, pressionada por todos os lados pelo ambiente hedonista de busca do prazer pelo prazer, precisa urgentemente de orientação. Mas surge uma questão: estaremos, pais e mestres, aptos a orientar? Estamos de fato conscientes de que o ser humano é racional, isto é, tem capacidade de escolha e pode, portanto, dominar seus instintos? É dessa conscientização que depende a orientação certa e segura.


Para citar somente um exemplo, o uso de preservativos é apregoado como sendo proteção absoluta contra a disseminação da AIDS. No entanto, é preciso esclarecer a juventude (e os adultos também!) que, se o preservativo falha na prevenção da gravidez, também pode falhar em relação ao risco de contrair AIDS, pois a transmissão se faz da mesma maneira. Quem embarcaria num avião que tivesse uma chance conhecida de cair, ainda que esta fosse mínima?


É preciso educar nossos filhos para uma vida moralmente sadia, e isto inclui um conhecimento adequado da sexualidade humana. E essa educação começa em casa. Os pais, porque amam seus filhos e querem sua felicidade, são as pessoas mais capacitadas para fornecer a eles os elementos básicos para o desenvolvimento saudável da sexualidade. A escola poderá ser um bom complemento. Bom complemento se bem orientada. Não podemos compactuar com toda essa deformação que presenciamos à nossa volta através de jornais, revistas, novelas, propagandas e programas de televisão. Desvios comportamentais, taras e doenças devem ser tratados em consultórios e não ser veiculados como algo necessário num relacionamento a dois. A imprensa deve repensar o seu trabalho e, numa atitude adulta, percebendo que ninguém quer a volta da censura, mas informação e lazer sadios, redimensionar qualitativamente aquilo que apresenta ao público.


A família, célula de uma sociedade bem estruturada, deve ser valorizada, amparada, respeitada no seu direito de dar aos filhos uma educação que lhes possibilite ser homens e mulheres de valor, cidadãos íntegros e retos. Os jovens gritam silenciosos que necessitam da nossa firmeza de conceitos morais, de nossa coerência de vida, da nossa luta por criar uma sociedade onde possamos viver como seres humanos racionais, no sentido exato do termo. Para isso vale a pena adquirir conhecimentos sólidos e verdadeiros que, como numa explosão radioativa, deixarão entre nossos adolescentes partículas que os ajudem a imprimir um ritmo adequado às suas vidas.



Dra. Aneliese Alckmin Herrmann é Prof. Adjunta do Departamento de Pediatria da Unifesp — Escola Paulista de Medicina e membro do Departamento Científico do Instituto de Estudos Mulher, Criança e Sociedade.